Sete em cada dez operações de crédito feitas no país em 2015 foram usadas para financiar o governo e as estatais.
O Estado absorveu 72% das operações de dívida —que incluem empréstimos a pessoas físicas, empresas e o lançamento de títulos públicos e privados no mercado, segundo levantamento do economista Carlos Rocca, do Centro de Estudos do Instituto Ibmec.
Isso representa R$ 597 bilhões, de um total de R$ 829 bilhões que girou neste mercado apenas no ano passado.
Foi o maior percentual de apropriação estatal do fluxo de dívidas da economia brasileira em dez anos. O estudo apresenta dados desde 2005.
Rocca atribui esse desequilíbrio ao elevado deficit no Orçamento, estimado em 10% do PIB. Endividado, o governo sugou recursos que deveriam irrigar o setor produtivo. “Quando o setor público disputa com o privado essa poupança, oferece juro mais alto em seus títulos, o que mata a demanda por crédito das empresas, que não conseguem acompanhar o aumento do custo do financiamento.”
Em resumo: o Estado, endividado, tem de cobrar juros altos para se financiar. Para o setor privado competir por esse dinheiro, precisa oferecer taxas ainda mais elevadas ao lançar um título, por exemplo, o que acaba sendo proibitivo.
Do total de dívidas em circulação (R$ 7,6 trilhões), metade está com União, Estados, municípios e estatais.
Essa é uma outra maneira de olhar a piora recente das contas públicas. Entre 2014 e 2015, a dívida bruta saltou de 57% para 66% do PIB.
“Quando o governo tem deficit, precisa se financiar, e há três opções: aumentar impostos, imprimir moeda ou elevar a dívida.”
CALOTE
A prevalência do setor público também é resultado da menor predisposição dos bancos em ceder novos empréstimos a empresas e consumidores em meio à recessão, temendo o calote.
“Dívida pública recorde não reflete só um lado, do governo, que precisa e quer se endividar, mas preferência extrema do setor privado por liquidez”, diz José Roberto Afonso, do Ibre/FGV, referindo-se à garantia de retorno, a qualquer tempo, das operações com títulos do governo.
Segundo Rocca, o endividamento do governo via emissão de títulos cresceu 19,8% em 2015. E as operações de curtíssimo prazo do BC, as compromissadas, 12,9%.
Segundo a consultoria Austin Asis, as aplicações em títulos de 115 instituições financeiras chegaram a R$ 2,7 bilhões no fim de 2015, quase 40% do ativo total delas.
Da Folha.uol




